Sonhar que não consegue se comunicar com alguém
A Voz que o Sonho Silencia: O Peso das Palavras Não Ditadas
No sonho, uma voz conhecida me chama, mas suas palavras se desfazem no ar, como uma melodia inaudível. Tento prestar atenção, mas é como se o som se perdesse antes de alcançar meu entendimento. Quem é essa pessoa? Por que ela me fala, mas não consigo ouvir? Não há som, apenas a impressão de palavras perdidas no vento de um momento que deveria ter significado, mas que se dissolve em algo impreciso.Esse sonho é um reflexo do que, talvez, tenha se acumulado dentro de mim: um mar de palavras não ditas, um mar de sentimentos contidos. Quando alguém que conhecemos aparece nos nossos sonhos e sua voz falha, a mente nos avisa de algo mais profundo. Um eco que fala de nós mesmos, mas que se esconde na névoa da comunicação não resolvida.
Talvez seja sobre as palavras que não conseguimos dizer. Sobre os silêncios que, por medo ou vergonha, se tornam mais pesados do que a fala mais sincera. Quantas vezes evitamos um diálogo honesto com aqueles que amamos, temendo que a verdade se transforme em algo que não conseguimos controlar? Quantas vezes guardamos dentro de nós um “eu preciso falar”, mas, ao mesmo tempo, o “eu não consigo”? O que nos impede de deixar que a verdade escape da garganta?
No sonho, quando tentamos falar e nossas bocas falham, é como se o corpo se recusasse a alinhar-se com o coração. A boca, com sua capacidade de dar forma ao que sentimos, se fecha, se engasga, se tranca. E a garganta, que seria a via da expressão, se torna uma prisão silenciosa. Mas será que a culpa é do outro, ou da nossa própria capacidade de nos mostrarmos vulneráveis?
A verdade, como uma flor que ainda não abriu, luta para se expor. E no sonho, essa luta fica visível, como se o inconsciente gritasse: “Há algo que você não está dizendo.” Talvez esse silêncio seja o reflexo de um medo ancestral, um medo de ser rejeitado, de ser incompreendido, de ser vulnerável. O que nos impede de nos expressar com total liberdade é, muitas vezes, a dor do não dito, o peso do que não falamos.
O sonho, então, nos desafia a olhar para esses espaços entre palavras e sentimentos, esses vazios onde a verdade não encontrou caminho. Talvez a comunicação falha no sonho seja um convite para falar o que está entalado. A boca presa na escuridão do inconsciente nos diz que, em algum lugar, há um nó a ser desfeito. O medo da reação do outro, o receio de uma palavra não recebida como esperávamos, nos impede de liberar o que está preso na garganta.
O sonho, porém, não é uma condenação. Ele é um lembrete: de que a comunicação é um dom. E é nesse instante que a vulnerabilidade se torna força. Falar a nossa verdade, mesmo que ela se arraste, como um peixe fora d’água, é o primeiro passo para libertá-la. Não é preciso acertar na primeira tentativa. A verdade pode ser inquieta, flexível, e por isso, profundamente humana. Às vezes, se afasta de nós, e outras vezes, ela surge do fundo do coração, sem aviso. Mas sempre ela exige que a deixemos fluir.
A cada palavra que não dizemos, algo se perde. Mas o maior risco talvez seja o de permanecer em silêncio, vivendo à sombra de uma comunicação ausente. Então, quando o sonho vier, quando a boca não responder ao comando, quando a voz falhar, que seja o momento de perguntar a si mesmo: "O que eu não estou dizendo?" E se, ao acordar, o medo ainda persistir, talvez seja o momento de começar a falar. Mesmo que, no início, seja uma fala trêmula, uma palavra tímida, que se refine com o tempo.
Porque, como o vento que curva os galhos das árvores, a fala verdadeira se ajusta, se dobra, mas nunca se quebra.
Comentários